Representantes do Comitê Olímpico do Brasil (COB) apresentaram à Comissão de Esporte (CEsp), na quarta-feira (11), os resultados no uso de recursos públicos recebidos e apontaram a necessidade de mais investimentos.
A reunião atendeu a requerimento da senadora Leila Barros (PDT-DF), presidente do colegiado ( REQ 15/2025 - CEsp ). Segundo ela, é preciso haver uma mobilização maior de atletas para a aprovação de leis que beneficiem o setor.
— Aqueles atletas que estão bem têm a obrigação de dar sua contribuição na defesa de um setor que ajudou a formá-los. Não vamos tentar colocar o atleta como alguém politizado, ele está ali por performance, mas o movimento realmente precisa dessa consciência de que o trabalho não é uma questão de se politizar, é uma questão de lutar por direitos — disse.
Leila questionou o presidente do COB, Marco Antônio La Porta, sobre o uso de cerca de R$ 20 milhões da arrecadação de apostas esportivas (bets) transferidos à entidade. Segundo La Porta, faltam normas sobre o uso dos valores, no âmbito da regulamentação das bets. Segundo ele, a expectativa é que parte do valor compense a tendência de queda nos recursos das loterias. Desde 2001, com a Lei Agnelo Piva , recursos das loterias são parte relevante das receitas do comitê, com transferência média de R$ 450 milhões por ano.
— A gente entende que as pessoas que apostam na loteria estão ficando mais velhas, já tem uma nova geração apostando nas bets. É por isso que os recursos das bets são tão importantes para o esporte. Falta agora estabelecer a regra de como nós podemos usar. Há uma data agora em julho de provável depósito das outras empresas. Se a gente não tiver a regra, vai ficar parado no cofre — disse La Porta, que assumiu a presidência do COB em janeiro.
La Porta afirmou que a nova gestão do COB atua “de forma agressiva” para captar patrocínios do setor privado e, assim, não depender apenas dos repasses estatais. O diretor-geral do COB, Emanuel Rego, apontou que, para este ano, o Comitê conseguiu novos patrocínios e atualizou a expectativa de receita em mais de R$ 67 mil. Ainda assim, segundo ele, o orçamento da entidade terá com déficit de R$ 5 mil. Emanuel Rego defendeu mais entrada de recursos públicos.
— O esporte sempre precisa de mais recursos. De todo recurso que é colocado no esporte, a gente faz um bom uso. Quanto mais, melhores resultados vão acontecer — disse Emanuel, que é ex-atleta de vôlei e marido da senadora Leila.
O diretor-geral do COB afirmou que o Tribunal de Contas da União (TCU) tem acesso completo ao sistema de gestão financeira da entidade para fiscalizar a aplicação dos recursos públicos transferidos.
Para o consultor de esportes do COB Jorge Bichara, uma das razões para o investimento em esporte no Brasil ser mais caro do que em outros países são as dificuldades logísticas.
— O esporte brasileiro faz milagre diante de um cenário difícil de competitividade internacional. A gente vive em um “canto do mundo”, no canto do globo terrestre. O custo de logística se triplica, quadruplica, para a gente manter um nível de competitividade com os principais países do mundo. Isso faz com que a gestão administrativa fique bastante pesada para o COB.
Bichara afirmou que confederações brasileiras de esportes, que são ligadas ao COB, evoluíram nas boas práticas de aplicação de recursos e transparência, em relação aos recursos recebidos do COB. As transferências que custearão a preparação dos atletas, por exemplo, obedecem a critérios administrativos, além dos critérios de técnica esportiva. Segundo ele, R$ 265 mil devem ser transferidos para as confederações, sendo que as maiores beneficiadas serão as de ginástica, voleibol e de judô.
O presidente do COB mostrou à CEsp que, depois da Lei Agnelo Piva, o Brasil ganhou 104 medalhas olímpicas em 23 anos, enquanto nos 81 anos anteriores à lei ganhou, no total, 66. No entanto, Emanuel afirmou que o atual modelo de fomento a atletas de alto rendimento precisa ser aprimorado. Ele disse que, em sua gestão, o COB investirá em aumentar a base de praticantes de esporte no Brasil.
— A gente tem uma preocupação muito grande em relação a [os Jogos Olímpicos de 2028 em] Los Angeles, não houve uma renovação adequada em várias modalidades. A gente veio com um discurso de que a gente pode desenvolver cada vez mais a prática da atividade física, atender mais modalidades, que pessoas conheçam mais dos esportes brasileiros.
Para isso, La Porta afirmou que o COB investirá em programas como o Corrida Time Brasil, que promove a prática da corrida. Outras iniciativas do COB, como o Programa Transforma, capacita professores de escolas para incluírem temáticas olimpícas nas aulas e apresenta aos alunos sobre a carreira esportiva e relação do esporte com disciplinas da escola. Desde 2019, o Transforma alcançou 55 mil alunos e 21 mil educadores.
Na avaliação de Leila, investimentos em esporte trazem retornos que beneficiam outras áreas da sociedade.
— O esporte sempre entrega mais e colabora com outros setores, como na área da educação, da segurança pública, da saúde. Vai muito além do que a sua formação de atletas — disse.
Outra atuação do COB apresentada à comissão é a exigência de capacitação em direitos humanos. O Comitê disponibiliza cursos on-line obrigatórios para atletas, chefes de delegação, técnicos e gestores em temas como racismo, assédio sexual e doping.
O COB é uma entidade privada sem fins lucrativos filiada ao Comitê Olímpico Internacional (COI). Além de receber apoio financeiro da União, a organização atua em parceria com o poder público, por exemplo, na promoção dos eventos olímpicos. Segundo a Lei Pelé , cabe ao COB representar o Brasil nos eventos olímpicos e também representar o movimento olímpico diante do Estado brasileiro.
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