Debater e resolver questões recorrentes sobre a cadeia produtiva do leite, reforçar qualidades nutricionais e consumo do produto, além de enaltecer a questão de geração de emprego na economia foram finalidades do III Seminário Estadual do Leite, realizado pela Frente Parlamentar do Leite da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) na tarde desta terça-feira (3) no Plenário Deputado Júlio Maia.
Proposto pelo 1º vice-presidente da ALEMS e coordenador da frente parlamentar, deputado Renato Câmara (MDB), o evento integra a Semana Sul-mato-grossense do Leite, instituída pela Lei Estadual 4.409/2013 . Para o parlamentar, o evento representa grande relevância para avançar no setor. “A Frente Parlamentar do Leite trouxe para a Casa de Leis o debate sobre esse produto que representa muito para Mato Grosso do Sul em questão de geração de emprego na economia e também no seu valor nutricional para a saúde humana. Ao longo desse tempo conseguimos ter um debate muito amplo e a conclusão, com uma nova etapa que se iniciou com esses encontros, foi a criação do Proleite, que representou um avanço na cadeia produtiva por meio de melhoramento genético através de assistência técnica e linhas de financiamento. Então esse programa, que surgiu em torno das discussões aqui, é uma realidade e está em fase de inclusão nas políticas públicas do Estado, o que representa um grande avanço para todos os produtores de leite”, destacou.
Renato Câmara apontou as perspectivas apresentadas no encontro. “Especificamente hoje nosso debate é sobre uma competição que está acontecendo a nível federal, que é a disputa do ovo com o leite. Por que o ovo já foi o vilão e ninguém podia comer mais do que um ovo por dia. Atualmente, todo mundo só pensa em comer ovos. E ainda existem muitas fake news relacionadas às qualidades biológicas do leite. Por conta do Junho Prata nós vamos ter um debate para desmistificar essas questões para a terceira idade. Nesta tarde temos muitos estudantes e acadêmicos na área de nutrição e pessoas que querem se aprofundar sobre esse tema”, reforçou o deputado.
Para o diretor de Fomento de Eventos da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, Marcelo Renck Real, a iniciativa da Assembleia Legislativa é positiva para o setor. “Essa iniciativa auxilia, pois a frente parlamentar oxigena a discussão do mercado do leite regional e a cadeia do leite no Mato Grosso do Sul e a nível do Brasil. Em várias regiões do Brasil, discussões como essa estão sendo realizadas com a intenção de agregar mais luz ao problema ou às oportunidades do mercado e também trazer sugestões para que a gente consiga melhorar o processo como um todo, incluindo os maiores e os menores produtores, tudo numa discussão ampla para se produzir cada vez com mais qualidade, mais volume um alimento tão nobre como esse”, enfatizou.
Representando a Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrrisul) e presidente da Associação de Criadores de Girolando do Estado, Alessandro Coelho fez uma análise do que foi conquistado e avançado em relação à cadeia leiteira. “Eu acho que o ponto principal disso já antecedeu, pois aconteceu em abril o lançamento do Proleite, quando o Governo do Estado lançou um programa de incentivo aos produtores. Mas todo esse trabalho veio em decorrência de um esforço que vem acontecendo há muitos anos aqui dentro da Assembleia Legislativa. E com isso a gente pôde caminhar a passos fortes e chegamos aí nesse primeiro programa onde teremos um incentivo e um fomento à parte genética, fazendo com que os produtores possam se tornar mais produtivos no nosso estado e trazer uma maior eficiência para essa cadeia tão importante que a gente espera poder transformar nos próximos dez anos. Para você ter uma ideia, vamos pegar um exemplo, a cadeia tem que se tornar mais eficiente. Em 1994, um litro de leite era o dobro do preço de um litro de óleo diesel. Hoje, um litro de leite é quase um terço do valor de um litro de óleo diesel. Então isso faz com que, se a pessoa não for competitiva, se ele não tiver um gado extremamente produtivo, ele não consegue produzir com um custo compatível com a realidade do mercado de hoje”, comparou Alessandro Coelho.
Cadeia Produtiva do Leite
Segundo dados da secretaria estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), a produção diária de leite em Mato Grosso do Sul é de 1,34 milhão de litros. No entanto, desde 2016, houve uma diminuição de 47% no volume produzido, que caiu de 388 para 174 milhões de litros anuais. Atualmente, o setor apresenta uma estabilidade na produtividade, com o rebanho variando entre 150 mil e 160 mil cabeças. Representando a secretaria, o gestor de Desenvolvimento Rural, Orlando Serrou Camy Filho, considerou a evolução das discussões que aconteceram nos últimos três anos. “A Cadeia Produtiva do Leite está naquele momento de trabalhar a unificação das suas instituições, ou seja, fortalecimento das associações, cooperativas e produtores, em um trabalho mais agregado num plano estadual que é o Plano Estadual do Leite (Proleite). E o seminário estadual vem para trabalhar mais aquela divulgação do produto, da qualidade e da importância dele para a nutrição humana. Então ele é voltado para o público consumidor e nós temos nosso público que são os jovens, os idosos e a população no modo geral. E a importância disso agora, nesse momento, é que a gente começa a ampliar as ações, por exemplo, na semana do leite, nós temos o Festival do Leite e do Queijo, além da economia solidária. E o seminário está junto disso agregando com as informações que complementam e tanto divulgam quanto à capacitação de conhecimento dos produtos lácteos do Estado”, elencou. O profissional complementa explicando como o trabalho acontece: “Cada um tem o seu papel e como a frente parlamentar tem representação na Câmara Setorial do Leite, aquelas demandas que são relevantes para a cadeia produtiva, seja na parte de legislação, assistência técnica, ou mesmo de incentivo que o Estado pode fazer, tem cada um as suas opiniões, ou seja, esses debates são feitos na Câmara Setorial. No caso da frente parlamentar, é algo que envolve realmente as funções do Parlamento, que é justamente a gente conversar sobre uma legislação, por exemplo, específica para a logística de embalagens de medicamentos da área rural. Porque ainda não temos essa legislação e está tendo agora um grupo um grupo técnico na frente parlamentar para fazer o estudo desse tipo de lei que já existe no Paraná e a gente vai fazer pela primeira vez aqui no Estado”, explanou Orlando Serrou Camy Filho
Conforme o diretor presidente da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), Washington Willeman de Souza, a Cadeia Produtiva do Leite figura entre as três mais importantes atividades no estado. “Nós estamos à frente da empresa pública de assistência de extensão rural do Mato Grosso Sul, a Agraer, e podemos afirmar com certeza que o leite, se não a mais importante, figura entre as três mais importantes atividades da pequena propriedade aqui no Mato Grosso Sul, que pese todos os percalços que o produtor de leite passa. Essa é uma atividade que ainda mantém muito o nosso pequeno produtor. É um dinheiro que ele tem diariamente e todo mês ele tem um pouquinho lá para a sua subsistência na sua propriedade e estar tocando a vida adiante. Recentemente foi citado aqui o programa chamado Proleite, com uma série de atividades propostas como melhoramento genético e incentivo fiscal na comercialização, entre outros”, pontuou o diretor presidente. Ele ainda elencou as acerca das atividades que o órgão realizará para capacitar não só o quadro técnico, para que possa levar uma assistência técnica de qualidade e transformar o tirador de leite em um produtor de leite, como também os profissionais da comercialização e na industrialização que trabalham na informalidade. Ele mencionou também sobre um projeto de lei onde se propõe a instituição do Selo Verde da Agricultura Familiar com uma série de orientações técnicas para que os produtores possam estar produzindo e comercializando o seu produto, tendo as recomendações exigidas pelos órgãos de controle.
A força do leite
"Para desmistificar que o leite faz mal à saúde, reforçar a força do produto e como é fundamental para o crescimento e a saúde muscular, foi ministrada palestra pelo médico interno, educador físico e nutricionista, Júlio César Rotela Encizo, especialista em Nutrição Clínica e Esportiva e em Nutrologia.O profissional explicou que beber leite não é inflamatório e citou diferenças importantes de intolerância à lactose e alergia ao Leite. “Há muita desinformação e "terrorismo nutricional" sobre o leite, mas muitas dessas ideias são fake News”, disse. Além dos benefícios do leite, que é rico em nutrientes essenciais como cálcio, proteínas de alta qualidade e vitaminas: B12 e riboflavina, importantes para energia e função neurológica, o profissional falou sobre o auxílio no crescimento e desenvolvimento muscular. “Estimula a síntese proteica após exercícios e crianças que consomem leite têm melhor desenvolvimento físico”.
Ele colocou a abordagem nutricional, a recomendação personalizada e os impactos do leite na idade escolar, citando o crescimento físico, a função cognitiva, a prevenção de deficiências nutricionais e a saúde óssea e prevenção de fraturas. O palestrante falou sobre a quantidade ideal de ingestão de leite e proteínas, enfatizando que a recomendação deve ser personalizada conforme a massa corporal e o nível de atividade física, especialmente em crianças e adolescentes. Ele apresenta um cálculo alternativo baseado no peso corporal.
Expondo as vantagens sociais do leite, como fortalecimento da economia rural e segurança alimentar, geração de empregos do campo à indústria, inovação tecnológica com desenvolvimento de produtos como leite sem lactose, iogurtes funcionais e probióticos e a movimentação econômica, o palestrante encerrou: “O conhecimento é como uma escada: quanto mais alto você sobe, mais ampla é sua visão”.
O poder do leite na terceira idade
No segundo painel o assunto é “O Leite e Envelhecimento ativo, preservando força muscular, mobilidade, autonomia e qualidade de vida na terceira idade com nutrição adequada”, com o médico especialista em clínica médica e geriátrica, José Roberto Pellegrino.
A palestra abordou a importância do consumo de leite e derivados na terceira idade, destacando como esses alimentos podem ser aliados na prevenção de problemas comuns do envelhecimento, como sarcopenia e osteoporose. O palestrante afirmou “Cada idoso merece viver com força, autonomia e dignidade. O leite e seus derivados são aliados valiosos nessa jornada.”
Foi explicado que, a partir dos 60 anos, ocorre a chamada resistência anabólica, quando o corpo utiliza proteínas com menos eficiência, agravada pela menor sensibilidade à insulina. “Por isso, a recomendação para idosos saudáveis é de 1,0 a 1,2g de proteína por quilo ao dia, podendo chegar a 1,5g/kg em casos de sarcopenia ou doenças”.
O palestrante enfatizou: “A deficiência proteica acelera a perda muscular, prejudica a mobilidade, aumenta o risco de quedas e compromete a imunidade”. Além disso, destacou que as proteínas lácteas são fontes excelentes de aminoácidos essenciais, como leucina, isoleucina e valina, fundamentais para a síntese muscular. Ele destacou os principais alimentos lácteos e seu conteúdo proteico e de cálcio, reforçando: “A combinação caseína + whey protein provoca uma resposta anabólica robusta no organismo.”
Além disso, alertou para os benefícios dos lácteos para a saúde do idoso. Entre os principais benefícios citados: síntese proteica eficiente, mineralização óssea, graças ao cálcio biodisponível e à vitamina D adicionada, saúde intestinal, com probióticos que melhoram a absorção de nutrientes, além do aspecto social, estimulando hábitos alimentares regulares e agradáveis.
O médico propôs um ciclo diário, que inclui leite, iogurte e queijos, garantindo cerca de 30g de proteína láctea e 800mg de cálcio. “Lembre-se: pequenas escolhas diárias fazem grande diferença na qualidade de vida.” E ainda aconselhou: “Combine alimentação adequada com atividade física para potencializar resultados.”
A meta mínima recomendada para manter a massa muscular é 1,2g de proteína por quilo ao dia e 1200 mg de cálcio diário, para a proteção contra osteoporose e fraturas. “Três porções lácteas por dia são recomendadas para atingir as necessidades nutricionais. O consumo adequado de cálcio pode reduzir em até 30% o risco de fraturas. Cada idoso merece viver com força, autonomia e dignidade. O leite e seus derivados são aliados valiosos nessa jornada”, finalizou.
Após as explanações dos palestrantes, foi realizada a mesa de debates, momento em que foram respondidas perguntas da plenária. O seminário reuniu representantes do governo, de cooperativas, de associações, de entidades de classe, produtores, empreendedores do setor lácteo alunos de escolas municipais e estaduais, integrantes do Espaço Vida Ativa e do Movimento Apoio Social de Campo Grande. O encontro contou com o apoio da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Mato Grosso do Sul (CSPLMS) e da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) e foi transmitido em todos os canais oficiais da ALEMS. Acompanhe a íntegra do evento no link abaixo:
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